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ToggleUm útero bicorne refere-se a uma malformação congénita do útero. Nestes casos, o útero tem a forma de um coração, dividido em dois cornos. Trata-se de uma condição relativamente comum, que pode afetar aproximadamente 1% das mulheres. E o que acontece quando se tem um útero bicorne? É isso que vamos tentar esclarecer neste artigo: as causas, o tratamento e as consequências de nascer com esta condição.
Causas do útero bicorno
O útero bicorne é uma condição que ocorre durante o desenvolvimento embrionário, quando a fusão completa dos ductos mullerianos, que dão origem ao útero, não se completa corretamente. Embora as causas exatas do útero bicorne não tenham sido determinadas, sabe-se que podem estar envolvidos fatores genéticos, hormonais e ambientais.
Fatores genéticos
Foram encontradas provas científicas que apoiam a influência dos genes e das mutações na formação anormal dos ductos mullerianos e, consequentemente, no desenvolvimento do útero. Neste sentido, foram identificados alguns genes que parecem estar relacionados com esta malformação.
Fatores hormonais
As hormonas também desempenham um papel importante no desenvolvimento e diferenciação dos órgãos reprodutores durante a fase embrionária. Qualquer desequilíbrio hormonal que ocorra durante este período crucial pode resultar num útero bicorne.
Fatores ambientais
De acordo com estudos recentes, a exposição a determinados produtos químicos ou toxinas durante o desenvolvimento fetal pode também aumentar o risco de malformações uterinas, incluindo um útero bicorne. Contudo, ainda estão a decorrer investigações para determinar a relação exata entre os fatores ambientais e esta condição congénita.
Sintomas do útero bicorno
A doença pode por vezes passar despercebida, porque muitas mulheres não apresentam sintomas óbvios. Algumas mulheres podem mesmo descobrir que têm um útero bicorne quando têm dificuldade em engravidar ou complicações durante a gravidez.
No entanto, existem alguns sintomas que podem ser comuns e que ocorrem frequentemente em mulheres com esta condição.
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Dor pélvica
Algumas mulheres com útero bicorne podem sentir dor pélvica crónica. Este sintoma deve-se à anatomia anormal do útero, que exerce pressão sobre os órgãos circundantes e causa um desconforto constante.
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Cólicas menstruais fortes
Isto ocorre porque o fluxo menstrual pode ter dificuldade em sair ou pode tender a acumular-se nos cornos uterinos, originando contrações mais fortes e mais dolorosas durante o período menstrual.
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Hemorragia menstrual irregular
As mulheres com um útero bicorne podem ter hemorragias menstruais irregulares. Podem ser mais longas ou mais curtas do que o normal, bem como ter hemorragias intermenstruais, que ocorrem entre períodos menstruais regulares.
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Dificuldade em engravidar
Esta malformação pode afetar a fertilidade da mulher. A forma anormal do útero pode dificultar a implantação do embrião e o seu desenvolvimento normal durante a gravidez. Mas isto não significa que a gravidez não seja possível com um útero bicorne ou que todas as mulheres com esta malformação tenham problemas de fertilidade.
Em todo o caso, os sintomas podem variar de mulher para mulher, e algumas mulheres podem não ter quaisquer sintomas.
Como é que um útero bicorno é diagnosticado?
As mulheres que têm esta condição descobrem-na normalmente durante uma consulta de rotina ao ginecologista ou mesmo quando têm dificuldade em engravidar. O diagnóstico geralmente é feito através de exames de imagem que permitem a visualização da estrutura do útero. As principais opções para o diagnóstico são:
Ecografia transvaginal
Esta é a técnica de imagiologia mais comum e é geralmente realizada em quase todos os consultórios de ginecologia. Consiste na introdução de uma sonda de ultrassons na vagina para obter imagens detalhadas do útero. São normalmente imagens precisas que podem mostrar a existência de uma forma anormal do útero e detetar a presença da parede que divide os cornos. Se a ecografia for também de tecnologia 3D ou 4D, a precisão das imagens faz com que a ecografia seja a forma ideal para diagnosticar o útero bicorne.
Histerossalpingografia
Neste caso, estamos a falar de um procedimento radiológico que consiste na introdução de um líquido de contraste através do colo do útero. Este líquido permite visualizar o útero e as trompas de Falópio através de uma radiografia. Desta forma, também é possível detetar eventuais anomalias.
Ressonância magnética (MRI)
Esta técnica permite obter imagens pormenorizadas dos órgãos internos. Portanto, é particularmente útil para avaliar a anatomia uterina, bem como detetar possíveis anomalias, por exemplo um útero bicorne.
Todos estes exames e técnicas ajudarão o especialista a confirmar a existência de um útero bicorne e a avaliar o tipo e a gravidade da malformação uterina.
Tratamento do útero bicorno
O útero bicorne em si não necessita de tratamento, embora tudo dependa da situação de cada mulher. Para decidir sobre os possíveis tratamentos, é importante conhecer a existência ou não de sintomas, a gravidade da malformação, os objetivos de fertilidade da mulher e quaisquer outras condições de saúde relevantes. O especialista avaliará a abordagem terapêutica mais adequada para cada mulher.
Em todo o caso, algumas das opções de tratamento que podem ser consideradas são as seguintes:
Tratamento prudente
Por vezes, um útero bicorne pode não causar sintomas na mulher, pelo que a intervenção médica pode não ser necessária. Contudo, é frequentemente recomendada uma estratégia de “espera vigilante”, ou seja, controlos regulares, especialmente no que diz respeito à saúde reprodutiva da mulher.
Cirurgia corretiva
Nos casos em que o útero bicorne está a causar sintomas significativos, incluindo dificuldade em engravidar ou complicações na gravidez, pode ser considerada uma cirurgia. Nestes casos, os cornos do útero são unidos. Desta forma, obtém-se uma cavidade uterina mais funcional. Para todos os efeitos, essa cirurgia é raramente realizada devido às suas complicações.
Tratamentos de reprodução assistida
Quando uma mulher tem dificuldade em engravidar com um útero bicorne, a medicina reprodutiva pode ser a chave para conseguir uma gravidez. Os tratamentos de fertilização in vitro podem ser uma boa opção para aumentar as hipóteses de uma gravidez bem sucedida.
Complicações do útero bicorno
O útero bicorne não está necessariamente associado a complicações, mas é importante que as mulheres com esta malformação recebam um acompanhamento médico adequado. O objetivo deve ser sempre minimizar os riscos e tratar precocemente as possíveis complicações.
Estes são alguns dos problemas que as mulheres com um útero bicorne podem enfrentar:
Infertilidade
Esta malformação pode dificultar a gestação e aumentar o risco de infertilidade. A forma anormal do útero pode prejudicar a implantação do embrião.
Aborto espontâneo recorrente
As mulheres com um útero bicorne têm um risco acrescido de aborto recorrente. Isto pode dever-se a vários fatores:
- Existência de um espaço muito limitado para o crescimento do embrião.
- Incompetência cervical, o que significa que o colo do útero não consegue manter-se fechado e firme durante a gravidez.
- Defeitos no tecido uterino, como uma má vascularização ou um revestimento uterino deficiente.
- Posição anormal do embrião, que impede o seu crescimento normal.
Parto prematuro
O parto prematuro é outra complicação possível do útero bicorne. Em muitos casos, pode ocorrer antes das 37 semanas de gestação.
Má posição da placenta
O útero bicorne pode aumentar o risco de a placenta se implantar de forma anómala no útero durante a gravidez. Isto pode levar a complicações durante a gravidez, como hemorragias ou atraso no crescimento do feto.
Conselhos para mulheres com útero bicorno
Se lhe foi diagnosticada esta malformação uterina, em primeiro lugar, não entre em pânico e lembre-se que cada caso de útero bicorne é diferente. O importante é consultar regularmente um especialista, que efetuará um acompanhamento adequado. Deve saber que muitas mulheres com um útero bicorne têm gravidezes saudáveis e bem sucedidas.
Como conselho geral, podemos sugerir o seguinte:
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Consultar sempre um especialista
É importante procurar sempre a atenção de um ginecologista que possa não só avaliar o seu caso, mas também oferecer-lhe orientações e recomendações adaptadas a si e às suas necessidades.
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Fazer um planeamento familiar
Embora um útero bicorne não a impeça necessariamente de engravidar, é importante falar com o seu médico sobre os seus planos de ser mãe, porque este aconselhá-la-á sobre os riscos e as possibilidades de engravidar com esta condição. Pode recomendar, entre outros tratamentos, a monitorização do ciclo ovulatório, a estimulação ovárica controlada ou a fertilização in vitro.
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Acompanhamento especializado durante a gravidez
Dada a possibilidade de complicações durante a gravidez com um útero bicorne, é importante efetuar um exame pré-natal completo, porque nestes casos a gravidez é gerida como uma gravidez de alto risco. Consequentemente, é essencial estar atenta aos sinais de alerta, por exemplo hemorragias vaginais, dores fortes ou contrações prematuras.
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Apoio emocional
Aceitar esta condição uterina anormal também pode ser emocionalmente difícil. Na realidade, é normal que surjam momentos de ansiedade ou frustração, especialmente quando se tem desejos reprodutivos. Por isso, encorajamo-la a procurar apoio emocional a nível profissional, se achar que isso a pode ajudar, mas também a nível pessoal. Para além disso, a escuta ativa por parte de amigos e familiares também pode ser muito benéfica. Do mesmo modo, a busca de grupos de apoio será uma grande ajuda, porque conhecerá outras pessoas que estão a passar por situações semelhantes. Em suma, este apoio permitir-lhe-á partilhar experiências, bem como sentir que não está sozinha.