Segundo a PORDATA, em Portugal, a idade média de nascimento do primeiro filho continua a aumentar.
Mediante os dados consultados, em 2002 situava-se nos 27 anos, pelo que em 2022 esta idade aumentou para os 31,80 anos.
O que é considerado maternidade tardia?
Quando falamos de maternidade tardia, referimo-nos à decisão de ter o primeiro filho depois dos 35 anos de idade. Embora esta não seja atualmente a idade média em que as pessoas têm o seu primeiro filho em Portugal, não podemos ignorar o atraso que se está a verificar na maternidade. Se a tendência se mantiver, dentro de alguns anos a idade em que as pessoas terão o seu primeiro filho terá atingido os 35 anos. Para compreender este facto, é necessário nomear as mudanças sociais, culturais e de vida que se verificaram na sociedade e que são suscetíveis de manter esta tendência.
Porque é que a decisão de ser mãe é adiada?
Tradicionalmente, era atribuído às mulheres o papel de nutrir, cuidar e cuidar da casa. O papel de mãe era considerado inerente à identidade da mulher, e elas eram educadas e ensinadas a fazê-lo. A maternidade era o objetivo de vida prioritário, porque as mulheres eram excluídas da educação e do trabalho, colocando-as numa situação de total dependência em relação ao outro membro do casal.
Dado que, atualmente, as mulheres têm acesso à educação, ao ensino, ao mercado de trabalho e ao livre exercício da autonomia reprodutiva (decidir se querem ou não ser mães, quando é a altura certa, etc.), a maternidade foi relegada. Deixou de ser considerada um objetivo a atingir ou uma parte fundamental da identidade de ser mulher, mas uma decisão livre, consciente e voluntária. Neste sentido, existem atualmente mais mulheres que:
- dão prioridade ao trabalho externo em detrimento do trabalho doméstico;
- dão mais importância à realização pessoal, a aspetos como a formação académica, o desenvolvimento profissional e a carreira;
- dão valor à sua independência e estabilidade económica, como o ter e aproveitar o tempo para viajar e divertir-se;
- optam por esperar por encontrar a pessoa certa com quem partilham valores, princípios e crenças e com quem podem criar um projeto comum.
A pressão social da decisão de adiar a maternidade
No entanto, embora a maternidade tardia seja cada vez mais frequente, continua a ser vista de forma negativa. Uma vez que a maternidade faz parte da sua identidade e dos seus objetivos de vida, as mulheres estão sujeitas a uma grande pressão social, que aumenta com a idade e com a chegada da prémenopausa. Quantas vezes já ouviu perguntarem às mulheres quando é que vão ter filhos e que vão “passar da idade”? Claro que estas perguntas podem ser ofensivas porque são feitas de forma trivial, sem informação suficiente e sem conhecer as condições e circunstâncias da vida da pessoa.
Significa também lutar contra o estigma social de ser “demasiado velho”, “em risco” ou mesmo “irresponsável”, o que pode influenciar negativamente as interações com outras pessoas e contextos. Se é certo que a probabilidade de surgirem complicações na gravidez e/ou no parto aumenta, os estudos confirmam que a idade do pai também tem uma influência negativa. No entanto, eles não têm esse estigma, pois ninguém se admira que um homem seja pai aos 50 anos.
Para além disso, pode haver receios sobre o futuro relacionados com o fosso entre gerações, a forma como irão lidar com a educação e a adolescência, os comentários que a criança irá receber sobre a idade dos pais, etc. Estes receios tendem a desaparecer rapidamente, uma vez que a realidade é que cada vez mais casais têm filhos mais velhos. Aliás, até podemos adaptar-nos a coisas novas… há alguns anos, ninguém diria que os nossos pais ou avós utilizariam o WhatsApp.
A maternidade tardia também é positiva
Mas ser mãe depois dos 35 anos também tem aspetos positivos de que a parentalidade pode beneficiar. A maternidade não é uma tarefa fácil. Embora gere um vínculo com a criança que não é igualado a nenhum outro, é um grande desafio a nível psicológico, no qual sintomas depressivos podem aparecer. As mães mais velhas têm uma maior maturidade emocional, mais paciência, mais resiliência e melhores estratégias de regulação emocional para gerir estas emoções de modo a que não se tornem patológicas.
Maior estabilidade emocional
Além disso, também apresentam níveis de stress mais baixos do que as mães mais jovens. Isto deve-se, possivelmente, para além do que já foi referido, ao facto de terem atingido mais metas e objetivos, por exemplo, no trabalho. Assim, as mulheres podem viver a maternidade de forma mais calma e descontraída, face às mães jovens que têm de conciliar a criação dos filhos com a progressão na carreira.
E, apesar de os riscos na gravidez e/ou no parto serem maiores, também costumam estar mais informadas sobre as possíveis complicações. Desta forma, prestam mais atenção à sua saúde, praticam hábitos de vida saudáveis, fazem um controlo rigoroso durante a gravidez e seguem na perfeição as indicações médicas. Informação é poder e, com ela, é possível atuar de forma a minimizar ao máximo os riscos.
Maior estabilidade económica
Por fim, esta estabilidade económica permite-lhes ter meios disponíveis para cobrir as necessidades básicas da criança até à sua emancipação ou os custos da sua formação académica. Para além disso, um maior poder de compra também facilita o planeamento e a organização. As mulheres podem contar com recursos que facilitam a conciliação entre a família e o trabalho, existindo menos stress, frustração e ansiedade no seu quotidiano.
Por isso, sim. Embora a maternidade tardia seja muitas vezes um tema controverso e debatido, onde se destacam principalmente os aspetos negativos, também tem aspetos positivos. No fundo, estes aspetos tornam a tarefa de ser mãe mais suportável e satisfatória.